"ALGUNS PEDAÇOS DE MIM"

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Cegueira!!



A lebre e o sapo estavam passeando a toa pelos campos, conversando entre eles. No caminho aproximou-se uma fuinha. Os dois só puderam ouvir rapidamente o que ela exclamou ao vê-los antes de desaparecer correndo: - Que animal horrível! -. A lebre, tocada por estas palavras, ficou pensativa e concluiu humildemente: - Sou feia, mas não tenho culpa -. Por sua vez o sapo olhou, calado, a companheira e pensou: - A fuinha tem razão: a lebre é monstruosa! -.Um pouco mais na frente os dois animais encontraram um esquilo fofoqueiro. - Você me dá nojo – exclamou ele com uma careta. A lebre enrubesceu de vergonha. – Nunca mais vou sair da minha toca – decidiu – É muito triste aborrecer o nosso próximo -. O sapo sorriu satisfeito: - Não se pode dizer mesmo que a minha colega seja atraente -. Por fim foram alcançados por uma raposa: - Lebre querida – disse ela com toda gentileza – a encontro em excelente forma. O que não entendo é como você, tão agraciada e limpa, consiga tolerar a companhia desta horrível criatura! -. A lebre baixou a cabeça confusa e, na sua modéstia, se convenceu que, com certeza a raposa estava exagerando. Quando mais se viu uma raposa dizendo a verdade? O sapo, por sua vez, concordava plenamente. Aquela besta ruim com certeza tinha afirmado o contrário do que pensava. Assim nem por uma vez passou pela cabeça do sapo, todo cheio de orgulho, que o objeto das zombarias dos animais pudesse ser ele mesmo.

Com a parábola do fariseu e do cobrador de impostos Jesus continua a nos falar da oração. Desta vez para nos dizer como devemos nos apresentar ao Senhor. De fato com as suas próprias declarações de merecimentos, a sua auto-suficiência e o seu desprezo pelos outros, o fariseu, não reza. Simplesmente enaltece a si mesmo. Uma pessoa assim não precisa de Deus porque já se acha perfeita. Tão segura de si que pode julgar os outros. Evidentemente a oração é outra coisa. Nasce da humildade do coração, da consciência dos próprios defeitos e pecados. Por isso se torna invocação, pedido de perdão, súplica para que Deus mesmo possa transformar a nossa vida. O cobrador de imposto é um exemplo de humildade, reconhece os seus erros e pede perdão. Jesus mesmo diz no evangelho que este último foi perdoado. O outro, tão cheio de si, não. No coração do fariseu só tinha lugar para ele mesmo e o seu orgulho. Não tinha espaço para o amor misericordioso do Pai.

A humildade é a virtude de quem está consciente ao mesmo tempo do seu valor, mas também das suas deficiências e necessidades.

Do orgulho nasce, antes ou depois, o isolamento. Da humildade surge o amor fraterno com todos os frutos maravilhosos de união, solidariedade, diálogo e paz.

Também precisamos nos abrir à bondade de Deus, deixar nos amar por Ele, deixar nos moldar pela sua misericórdia. Deus não abusa do seu poder, aceita se fazer pequeno, pobre e crucificado em Jesus, para nos amar até o fim. A sua grandeza não é o poder, mas o amor.

Infelizmente o mundo está cheio de sapos orgulhosos. Nós todos podemos ser alguns deles. Precisamos nos deixar amar para que Deus possa transformar as nossas feiúras, fruto do mal, nas belezas, fruto do bem.

Olhar-se muito no espelho pode ser sinal de vaidade. Olhar-se para reconhecer o nosso rosto deformado leva à humildade. Os outros também são nossos espelhos. Todos precisamos reparar bem se o sapo que está em nós está ficando mais bonito ou mais feio. Eu também.

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